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Minha experiência fazendo um curso de italiano em uma escola para estrangeiros em Salerno foi uma das mais enriquecedoras de minha vida. Salerno é uma cidade praiana do sul da Itália e… bem, eu fui para lá no inverno. Digamos, então, que nem a cidade, nem a escola estavam em seu auge, ou melhor, estavam nem ao menos mediamente ocupadas. Em resumo: éramos um grupo pequeno de alunos. Pequeno, porém, unido. Todos os dias depois das aulas, a maior parte de nós que – que eu denominava mentalmente como “a turma do balacobaco” (aliás, essa palavra precisa ser assunto de um post) e traduzia pra eles na forma sem graça de “Non-stop Party People” – saía pelas ruas atrás de uma festa – que quase nunca achávamos (cidade praiana, inverno) – ou de um bar – que quase sempre achávamos, mas éramos os únicos frequentadores – eh, baixa temporada tem seus problemas.

 

Tentando voltar ao tema, então, como havia dito anteriormente, éramos um grupo pequeno do qual, eu, para o bem, ou para o mal, era o único brasileiro. Para o mal para eles já que eu não sou um bom exemplar da minha nacionalidade: não sei sambar e minha ironia e sarcasmo superam de longe o meu otimismo e “solaridade” (como uma das professoras salernitanas gostava de descrever a alegria de meu povo, que eu tão pouco demonstrava…)que tanto se espera de meu povo. Como esse é um blog de linguagem e cultura, essa minha experiência de passar trinta dias entornando garrafas de vinho ao lado de gringos (e estudando também) será, inevitavelmente, citada outras vezes e terei tempo de contar todas as histórias desse baú. Então, vou me esforçar um pouco mais para voltar ao tema.

 

Como único brasileiro, vira e mexe, eu precisava responder as mesmas perguntas:“Não, eu nunca fui a Amazônia. Na verdade, é bem longe da minha casa. É como uma viagem de Nova York a Los Angeles”; “Não, eu nunca fui na cidade em formato de avião; Não, não sei driblar, só sei jogar no gol!; “Também achava que as mulheres brasileiras eram as mais bonitas do mundo, até conhecer você…

 

Porém, o tema da maioria das perguntas era o Carnaval: “como é o carnaval?” Se bem, que, com todas as diferenças culturais, eu precisava responder “O que é o carnaval?, já que aqui parece ser uma coisa completamente diferente do restante do universo.

 

A primeira coisa, era explicar, no meu irritante e onipresente tom professoral, que o Carnaval, em princípio, é um feriado como outro qualquer. Na verdade, um megaferiado que se estende do sábado até o meio-dia da quarta-feira de cinzas. “Four days, man!!” Exclamava incrédulo um dos gringos. Isso, a menos que você trabalhe em um serviço que não possa parar (produção em turnos, hospitais, postos de gasolina, policiamento, etc) você tem quatro dias de feriado. Enquanto, secretamente ele calculava o prejuízo de tal paralização e atribuía a ela nosso subdesenvolvimento, eu continuava minha explicação dizendo que como em qualquer feriado você poderia fazer o que quisesse: almoçar com a família, viajar com a esposa, rever os amigos e até dormir de sexta à noite até o meio-dia de quarta (prática mais comum do que parece, que recebe o nome de “pular o carnaval”).

 

Meu segundo movimento explicativo era dizer que eu não saía nas escolas do Rio de Janeiro vestido com roupas estilo Clóvis Bornay. Primeiro, porque eu não gosto nem de pumas e nem de paetês. Em segundo lugar, porque o Rio de Janeiro fica longe da minha casa e a tradição das escolas de samba é algo muito local. E por último, porque sair em escola de samba era só para quem era membro daquela comunidade (e tinha ensaiado o ano todo) ou para quem pagasse muito pela vaga (infelizmente, cada dia mais, existem mais dos segundos e menos dos primeiros). Explicava, por fim, que esse Carnaval do Rio de Janeiro (apesar de esplendorosamente belo) estava mais para a Broadway ou o Circo de Soleil do que para a “maior festa popular do planeta”. Enfim, era um carnaval profissional e eu preferia um carnaval mais amador do qual todos pudessem tomar parte.

 

“Ora, mas o que então representaria um carnaval amador? Onde todos podem dançar, assim, vestidos como nós?” Continuavam os curiosos gringos.

 

Bom, vestidos como nós, não, porque não dá pra dançar com esses casacos, mas eu acho que o trio elétrico (picaretamente traduzido por mim, no momento, como “electric trio”) expressa bem essa ideia. Foi só aí que eu me dei conta que, da mesma forma que eles não sabiam a distância entre São Paulo e Amazônia, que não sabiam que as escolas do Rio de Janeiro não eram no sistema “vai quem quer”, também, não faziam a menor ideia do que era um trio elétrico.

 

Ali, sem tempo, sem blog e com muitos goles de álcool na cabeça, só me restou fornecer uma explicação tosca: “pega um caminhão, coloca uma banda em cima. Ela vai tocando o caminhão vai andando e o povo vai atrás”. “E vai todo mundo?” “Só não vai quem já morreu”.

 

Porém, agora eu tenho tempo e um blog e poderei usar o próximo artigo para explicar melhor o que é um trio elétrico, de onde veio esse nome e porque talvez ele não seja mais tão “vai quem quer” como eu imaginava na época.

 

Mas, isso fica para o próximo post. Antes ou depois do carnaval. Porque se for durante, eu terei o tempo, terei o blog, mas acabarei tendo álcool na cabeça…

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