O Fim da Zoeira do Dia Seguinte

img_logo_br

Primeira Parte

Em vários textos a respeito de futebol (eu sei, eu sei, estou tentando mudar de assunto, mas é difícil), mencionei o fato de tal esporte ser parte essencial da cultura popular brasileira. É um tema obrigatório em rodas de amigos, bares, além de ser o quebra-gelo genérico em uma conversa entre homens – em um silêncio constrangedor com o genro, sogro, primo ou namorado da irmã, geralmente, basta fazer um comentário aleatório sobre um resultado/lance/jogo da última rodada de qualquer campeonato de destaque e voilá, uma conversa instantânea. Contudo, nos últimos anos, venho notando que uma parte importante de tal cultura parece estar ameaçada: a zoeira do dia seguinte.

A zoeira (brincadeira, tiração de sarro) do dia seguinte (geralmente, na segunda-feira ou na quinta-feira) consiste em fazer as mais diversas piadinhas com o time do colega de trabalho ou de escola ou de um amigo. Vale tudo: lembrar momentos bisonhos do time, insinuar que o goleiro é frangueiro, chamar o atacante de perneta, colocar em dúvidas títulos reconhecidos, etc. Essa parte parece não ter sido ameaçada, talvez, até ampliada ou “pasteurizada” (dependendo do ponto de vista), pelo Facebook e pelo Twitter. Porém, a “zoeira do dia seguinte” é uma estrada de mão dupla. Mais do que ouvir as piadinhas é preciso aceita-las, rir de si mesmo (ou de seu próprio time) e/ou responder com outras tiradas igualmente (ou mais) interessantes que a piada original.

É justamente essa parte que parece estar mais ameaçada atualmente. Cada vez mais os torcedores, especialmente entre os torcedores mais jovens (30 anos ou menos), parecem estar trocando tais respostas criativas por respostas padronizadas. Respostas essas criadas pelas torcidas organizadas e por departamentos de marketing de clubes, que são repetidas à exaustão até se transformarem em uma espécie de mote ou bordão oficial da derrota. Frases que misturam fanatismo, propaganda e “belicosidade”, como se baseadas em um manual de redação escrito a seis mãos por um fanático religioso, um publicitário sem escrúpulos e um senhor da guerra (observação: ao ler, substitua essas definições pelos primeiros nomes próprios adequados que vierem a sua cabeça).

Por aqui soamos o apito e terminamos a primeira parte deste texto. Em breve voltaremos com a segunda parte na qual explicaremos qual é o problema de tais frases no contexto da zoeira do dia seguinte e qual o seu verdadeiro risco para a nossa cultura popular futebolística. Antes de ir, um pequeno adendo. A despeito de todas as nossas críticas e reclamações, o futebol continua a ser uma coisa maravilhosa. Tão maravilhosa que, como diria um comercial de rádio já citado em posts anteriores (excluindo a parte do preconceito contra as novelas), os ingleses merecem ser congratulados pessoalmente pela invenção. Um apaixonado pelo esporte não deve deixar de fazer tal visita de agradecimento e de aproveitar para assistir a uma partida do campeonato de futebol mais tradicional e um dos mais disputados do mundo (não só dentro de campo, como também em termos de ingressos para os jogos mais tradicionais): a Premier League. Aproveite para se preparar para tal viagem e experiência com um curso de inglês no Rio de Janeiro ou aí mesmo na cidade onde você mora. Até a segunda parte.

Comentários sobre O Fim da Zoeira do Dia Seguinte