A Cultura Nerd e o Aprendizado de Idiomas
Parte 3 – O pulo do gato nerd
Continuando a série sobre a relação entre a cultura nerd, mas ainda sobre a relação desta com a língua inglesa (que acaba sendo uma das mais estreitas e com maior influência no aprendizado do idioma), falaremos mais especificamente sobre como a cultura nerd auxilia no aprendizado do idioma e serve como motivação para os estudos e para a prática, além da sala de aula e do contexto das tarefas de casa (as famosas e nunca feitas homeworks).
Para retomar o fio da meada (lançado na parte anterior), comecemos explicando melhor o processo de retroalimentação mencionado na Parte 2: as pessoas não estudam uma estrutura nova para depois vê-la em uso em seu videogame favorito. Elas veem estruturas novas em seus videogames favoritos, notam uma relação com aquelas que aprenderam anteriormente e aprendem pelo contexto (que é conhecido, afinal, elas conhecem bem seus jogos favoritos) ou fazem uma pequena pesquisa para entende-la e aprendê-la (existem diversas outras formas pela qual essa “retroalimentação” ocorre, esse é apenas um exemplo). Assim, a gramática é aprendida em uso real, ainda que dentro de um universo fantástico e/ou virtual.
Além de servir como fonte de aprendizado, não se deve esquecer que um hobby em outra língua também serve como motivação. Como professor de inglês, presenciei muitas vezes o desejo de entender completamente as letras de uma banda ou as falas de um jogo de videogame sendo um motivador muito mais eficiente que a progressão (ou mesmo a permanência) em uma determinada carreira profissional ou cargo. Esse é o “pulo do gato” da ligação entre cultura nerd / pop e o aprendizado da língua inglesa: a utilização, pelo próprio aluno, da diversão como motivação e como prática, fora do “tubo de ensaio” da sala de aula e do contexto de atividades planejadas, ou seja, no uso real (ainda que em um mundo de fantasia).
Para muitos, ter um hobby como motivação pode parecer algo fútil. Afinal, com tantos motivos mais nobres, aprender inglês para ler novas histórias em quadrinhos (ou livros de ficção, de fantasia, etc.), pode parecer muito esforço por pouca coisa. Porém, o que percebia como professor (e como sugeri acima) é que a paixão pelo hobby e o aprendizado se ligavam tanto que, às vezes, se misturavam e, se misturavam tão bem que o aprendizado não apenas deixava de ser um esforço como se tornava uma diversão. Eu mesmo não sei quantas vezes “encontrei forças” para continuar a estudar inglês aos sábados de manhã durante a adolescência porque queria ser capaz de ler e entender livros básicos (e suplementos) de RPG que jamais seriam traduzidos para o português.
Enfim, a diversão é uma motivação poderosa e não deve ser subestimada. Afinal se, partindo do princípio que os Titãs (os do Ie Ie e não os gregos) estavam certos, fazemos qualquer coisa por diversão, por que não fazer coisas que colaborem com nosso desenvolvimento individual?
P.S: Com todo esse domínio da produção da cultura nerd / pop em língua inglesa, pode-se pensar que essa auxiliaria e influenciaria apenas no aprendizado do idioma da terra da rainha. Porém, não é bem isso o que acontece. Afinal, existem nerds de todos os tipos e manifestações da cultura pop para todos os gostos. Na próxima parte, serão abordados os Otaku (em uma definição bem lato sensu) e o aprendizado da língua japonesa. Até lá.