A Cultura Nerd e o Aprendizado de Idiomas

Aviso geral: A cultura nerd ocidental é bastante complexa, diversificada e multifacetada. Contudo, sua variedade é pequena se comparada à sua equivalente oriental. A produção (e o consumo) oriental na arte sequencial (quadrinhos), nas animações (desenhos animados) e nos videogames é muito maior e mais variada que a ocidental contando, nos três produtos citados, com dezenas de gêneros, subgêneros, estilos e subestilos. Cada um dos quais, recebe um nome diferente e, às vezes, concede um nome diferente também a seus fãs. Contudo, como para o objetivo deste texto (e do próximo) o importante é as características que eles têm em comum (e como esse é um blog de idiomas a semântica importa, o que justifica esse aviso) aplicaremos a técnica de discurso e análise conhecida como MGTC (Mistureba Geral de Todos os Conceitos), afinal, nem toda a generalização é burra, e designaremos toda arte sequencial em estilo japonês como mangá (em oposição aos comics americanos), todas as animações como animes e todos os fãs orientais como otakus (com a mesma amplitude que usamos o termo nerd nessa série de posts).

convention

 Parte 4 – Otakus em movimento

Foi tudo muito rápido. Havia um bando de nerds hipster (ou de raiz, como dizemos no interior) e, súbito, brotaram por todos os cantos pessoas que eram fanáticas pela cultura pop, mas não eram nerds, eram otakus; se vestiam como seu personagem favorito, mas não se fantasiavam, faziam cosplay; que andavam com revistas em quadrinhos por todo o canto, mas não eram revistas em quadrinhos, eram mangás (que eram lidos da direita para esquerda); que assistiam desenhos animados, que não eram desenhos, eram animes; que adoravam o karaokê, mas não para cantar “undererê”, mas o tema da abertura do Jaspion (e não na versão de “o cara tossiu”). Mas, como surgiu essa galera?

No mundo inteiro, eu não sei. Mas, pelo menos aqui no Brasil, a invasão foi iniciada pelo filme Akira (claro que sempre existem as exceções, os “primeiros a adotar”). Mesmo tendo assistindo o filme muitos anos depois (em meados dos anos 90), ele ainda era completamente diferente de qualquer animação que eu já tinha visto. Seja pela qualidade das imagens, seja pela rispidez da narrativa que lhe trata como um ser pensante, de uma forma completamente não assistencialista. Depois de Akira, foi impossível voltar a ver as animações com os mesmos olhos. E era difícil não querer mais dessa mágica animação japonesa perto da qual as animações ocidentais tradicionais pareciam mais apresentações de slides (chatas, cansativas e sem movimento).

akira

Seguindo essa linha, os animes mais populares – Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball – invadiram as telas da TV aberta (Record, SBT, Globo e, especialmente, da saudosa Manchete), as lojas de brinquedo e a cultura popular brasileira. Contudo, para alguns, isso não foi o suficiente. Afinal, se levarmos em conta que a produção de animes é muito mais volumosa que a produção de animações ocidentais, dezenas de animes permaneceriam sem serem exibidos na TV, ou seja, sem uma versão “Gota Mágica” ou de qualquer outro estúdio de dublagem.

Foi aí que os fãs de animes (antes da Internet) partiram para a guerrilha. Conseguiam fitas cassete (também era antes do DVD) através de amigos que iam para o exterior (principalmente, do grande número de brasileiros descendentes de japoneses que estavam no país de seus ancestrais pra trabalhar) e faziam uma legendagem caseira naquela fita. Daquela fita, várias cópias eram feitas e distribuídas, em uma espécie de “clube do vídeo”. Foi essa necessidade e essa guerrilha que aproximou os fãs do anime do aprendizado da língua nipônica. Seja pelo fato de passarem horas e horas ouvindo o idioma original, seja pela curiosidade pela cultura japonesa despertada pelos temas abordados ou pela possibilidade de se libertar das legendas ou auxiliar o “clube” na produção das legendas (afinal, o volume da produção é enorme).

anime club

Com advento da internet, tudo ficou muito mais fácil para os “clubes de anime”. Os vídeos transcenderam a mídia física e puderam ser compartilhados de forma cada vez mais rápida e com maior qualidade, sem a necessidade de uma complexa logística internacional. As legendas puderam passar a ser feitas de modo mais fácil, sem a necessidade de equipamentos especiais, além de poderem ser constantemente corrigidas e aprimoradas. Quanto ao aprendizado do idioma japonês, além do apoio em atividades, a Internet facilitou a busca e a escolha por um curso presencial (ainda mais com a presença de portais como o da Language Trainers), além de oferecer a opção por um curso online, seja por Skype diretamente com o professor ou em sites de auto-aprendizado como o Live Mocha.

karaoke

Como o texto já está bem grandinho, ficamos por aqui. Na próxima parte mais continuamos com os nerds (e o idioma) da Terra do Sol Nascente, mas falaremos dos videogames, dos mangás, do J-Pop e dos samurais. Até lá!

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