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Parte 2: …. de novo…

 

A seguir os cinco motivos pelos quais o hit “Ai se eu te pego” tende a não ser usado para o ensino da língua portuguesa – mesmo com a crescente popularidade mundial de ambos. Caso não tenha lido a primeira parte deste artigo, clique aqui.

 

1-) Confusão pronominal: Assim você me mata/ Ah se eu te pego… “Você” é um pronome de tratamento equivalente a terceira pessoa. “Te” por sua vez é o pronome do caso oblíquo da segunda pessoa. Sim, está errado. A forma correta seria: Assim você me mata/ Ah se a pego… ou Assim tu me matas / Ah se eu te pego. Claro, no português falado, nós, brasileiros (que segundo Pina, minha professora de italiano, fazemos uma bagunça com os pronomes) fazemos isso o tempo todo. Naturalmente (principalmente, aqui pelas bandas de Sampa…). Porém, como diz aquele velho axioma pedagógico: fale como eu ensino, não como eu falo.

 

2-) Balada? Que isso?: Como sempre respondem os fãs quando questionados a respeito da qualidade poética da canção de Teló, a canção é para dançar, curtir, enfim, ouvir na balada (como a própria letra deixa claro: “Sábado na balada…”). Infelizmente, não pega bem para professores admitir que possui uma vida noturna. “Ah! Nada a ver”, espernearão alunos mais maduros, moderninhos ou compreensivos. Porém, nem todos são como vocês. Quando eu ministrava aulas em uma escola estadual, apareci uma vez em uma foto de canto em um jornal que divulga baladas aqui em minha cidade (sempre as mesmas, porque a cidade é pequena, então, não existem tantas baladas assim) e ouvi durante três meses ou mais comentários do tipo: “Aí, professor baladeiro!”; “Só no agito, hein profi?”. Depois desses eventos, evitei a cobertura de festas locais a todo o custo e não admitia sair de casa depois das dezoito horas nem na presença do meu advogado!

 

3-) Ai caso a pegasse: O subjuntivo é de longe o modo verbal mais complexo da língua portuguesa. Tanto que a maioria dos brasileiros não o utiliza normalmente (e nem sabe utilizá-lo), imagine, então, as dificuldades para um estrangeiro. Para virar hit também nas paradas didáticas o refrão bem que poderia conter um subjuntivo, assim quem sabe esse colaria com a mesma facilidade da canção.

 

4-) Interjeição: O colante refrão pode não ter o modo subjuntivo, mas tem uma interjeição. Mas, há de se convir que interjeições não são o conteúdo mais interessante a se tratar em um curso de línguas. “Oh, o que quer dizer “Ai”?; “Ah… é…. ah!”; “Ah, entendi!”.

 

5-) Pressão dos pares: Não é bem visto pelos companheiros de classe. Mesmo com todos os conceitos revolucionários pedagógicos, técnicas neolinguísticas e outros, a docência pressupõe uma certa hierarquia intelectual (pelo menos, no que se refere ao assunto ensinado), logo, todo ensino é, de certa forma, culturalmente elitista. Não é de se espantar que isso “vaze” para o convívio social dos professores com seus pares, que não tenderão a ver com bons olhos quando um companheiro de classe (no sentido de profissão e não de turma escolar) que use uma música de balada, do populacho, de aculturados, como um recurso pedagógico.

 

Diante de todos esses motivos, pelo jeito, os novos professores de Língua Portuguesa vão ter que continuar a utilizar como recursos didáticos as mesmas canções chatas de sempre… de Noel Rosa, de Caetano Veloso, de Chico Buarque…

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