Boa Noite, Cin… Boa Noite, quem mesmo?

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Este post foi escrito com o objetivo de esclarecer a profunda e existencial dúvida de um amigo (que logo passou a ser também minha) expressa simultaneamente por meio de um post no Twitter e de uma atualização de status no Facebook: “Se a bela adormecida é quem dorme, por que o golpe se chama ‘Boa Noite, Cinderela?’”.

 

Um “Boa Noite, Cinderela” consiste basicamente em incrementar o drink da vítima com uma droga depressora do sistema nervoso central. Como o álcool também deprime o sistema nervoso central, ao ser consumida junto com o drink, a droga acaba por ter seu efeito sedativo aumentado. Esse efeito sedativo aumentado pode chegar a mais de 72 horas e causar amnésia para os eventos ocorridos durante e pouco antes da sedação, o que dificulta a identificação do criminoso por parte da vítima. Com a vítima indefesa, o golpista encontra facilidade para realizar uma série de crimes, sendo os mais comuns deles o assalto e o estupro (o roubo de rins, apesar do que dizem, não é tão comum assim).

 

Se a principal característica de tal golpe é a sedação da vítima, porque então ele é chamado de “Boa Noite, Cinderela”? A Cinderela não é sedada – na verdade, sai até muito cedo da festa -, não é roubada – nem possui bens para tanto – e nem é abusada – exceto, talvez, por suas tias más. Então, por que o golpe não foi chamado de “Boa Noite, Bela Adormecida” essa última sim poderosamente sedada por magia? Ou, quem sabe, até de forma mais adequada, de “Boa Noite, Branca de Neve” já que sua maça é incrementada com um poderoso sonífero? Seria um erro de denominação? Uma confusão? Uma falta de conhecimento das fábulas infantis? Uma piada com os irmãos Grimm?

 

Nenhuma das anteriores. O nome do golpe simplesmente não tem origem nos contos de fada.

 

“Boa Noite, Cinderela” foi o nome de um quadro do Programa Silvio Santos (que nessa época ainda não possuía seu próprio sistema de televisão e trabalhava, quem diria, na TV Globo) que se iniciou na década de 70 e durou até a década seguinte. No quadro em questão três meninas carentes eram levadas ao programa e entrevistadas para ter os seus sonhos realizados por uma noite (uma versão infantil – e noturna – do menos antigo “Dia de Princesa”).

 

O golpe parece ter absorvido o nome do quadro por meio de uma metonímia irônica (e/ou perversa). Enquanto no show a menina chegava sem nada e ganhava tudo, no golpe, seu exato oposto, a vítima chega com tudo e termina sem nada. Cruel. Mas assim é o mundo. Nem todos os estranhos que se conhece são príncipes ou o Silvio Santos…

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