Bokmål e Nynorsk: A Incrível Dualidade da Escrita do Norueguês

A Noruega parece ser, em todos os sentidos, um país totalmente oposto ao nosso.

O Brasil fica no hemisfério sul e a Noruega está no norte da Europa. O Brasil é um país de clima tropical e a Noruega é de clima frio; o Brasil apresenta muita desigualdade social enquanto a Noruega é um país de economia estável e excelentes níveis de vida.

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Mas você sabia que os dois países compartilham uma característica bastante particular?

Embora a língua oficial do Brasil seja o português, sabemos bem que o português brasileiro é extremamente variado e não existe uma forma “correta” de falar a nossa língua. É muito fácil para nós identificarmos de que região ou estado uma pessoa é, pois o dialeto ou sotaque dela será, com raras exceções, muito marcado.

Na Noruega, o mesmo fenômeno acontece.

Apesar de o norueguês ser o idioma oficial da Noruega e de ele ser a língua materna de cerca de 5 milhões de pessoas, não existe um norueguês estândar. Há dezenas de dialetos falados no país e o lugar de origem dos falantes pode ser rapidamente identificado, pois seus acentos e variedades na entonação são muito peculiares. Por isso, dizem que os noruegueses falam de maneira musical – assim como os brasileiros!

Os habitantes desse país não costumam se mudar muito; a tendência é que uma pessoa viva sempre na mesma região. Sendo assim, os dialetos acabam não se misturando e, por consequência, eles vêm sendo preservados há muitas gerações.

Assim como acontece no Brasil, os noruegueses unificam sua forma de falar através da escrita. Um pernambucano e um goianiense podem falar de maneiras muitos diferentes, mas eles escrevem o mesmo português. Da mesma forma, os noruegueses escrevem de uma maneira unificada e falam de outra, dependendo da região onde moram.

Porém, para deixar tudo ainda mais complexo, não existe apenas uma maneira correta de escrever a língua.

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O norueguês tem duas variedades escritas distintas: Bokmål, que significa “língua dos livros”, e Nynorsk, que quer dizer “novo norueguês”. Eles são muito próximos um do outro, e é por isso que eles são considerados “dialetos escritos”, mutuamente inteligíveis.

Na fala, há muita diversidade dialetal, mas, por escrito, as variedades são mantidas por separado de maneira clara.

 

O Nynorsk é usado principalmente no oeste da Noruega como língua escrita (por aproximadamente 10% da população, o que totaliza cerca de meio milhão de pessoas). O Bokmål, por outro lado, é dominante no resto do país e é usado por cerca de 90% da população.

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Por que existem duas maneiras diferentes de se escrever a língua norueguesa?

Para responder essa pergunta, precisaremos fazer uma viagem no tempo e aprender um pouco mais sobre a história deste curioso país.

 

O começo de tudo: Os Vikings e o Nórdico Antigo

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O norueguês pertence à família das línguas germânicas, junto com o sueco, o faroês, o islandês e o dinamarquês. Todos esses idiomas têm um ancestral em comum: o Nórdico Antigo, que foi falado e escrito no território da Noruega durante a Era Viking (entre os séculos IX e XI) e durante a Idade Média (até cerca do ano 1500).

A Noruega foi um reino independente entre os séculos XI e XIV.

A partir do século XIV, porém, o reino norueguês perdeu muito de seu poder. A Peste Negra, que assolou a Europa principalmente entre os anos 1347 a 1351, causou grandes tragédias também nesse país.

Por esse motivo, em 1397, as três monarquias nórdicas – Noruega, Suécia e Dinamarca – decidiram se juntar e formar a União de Kalmar, cujo poder ficou centralizado nas mãos dos dinamarqueses.

 

Séculos XVI a XVIII: Algo vai mal no Reino da Dinamarca…

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Em 1523, a Suécia decidiu se separar de maneira definitiva da União de Kalmar, mas a Noruega permaneceu e nela ficou por muitos anos mais.

O centro ou metrópole da União era Copenhagen, e o território norueguês era o que chamaríamos de “interior”. Sendo assim, não é difícil entender por que a língua dinamarquesa era considerada mais prestigiosa.

Sob domínio dinamarquês, a língua norueguesa, em sua forma escrita, praticamente deixou de existir. As classes altas e mais influentes na Noruega – a elite, a Igreja e a burguesia – desistiram de escrever em sua própria língua e adotaram o dinamarquês. O curioso, porém, é que eles continuaram pronunciando o dinamarquês da maneira norueguesa. A escrita e fala não eram unificadas.

Um fator muito relevante nessa escolha foi a abolição da Igreja Católica na região da Escandinávia como consequência da Reforma Protestante na Europa. A Bíblia foi traduzida para o dinamarquês ainda no século XV, mas o norueguês precisaria esperar muito tempo, até o século XIX, para ter sua própria versão dos textos sagrados. Como os noruegueses se viram obrigados a ler a Bíblia em dinamarquês por séculos, o prestígio desta língua aumentou ainda mais dentro da Noruega, pois o dinamarquês tornou-se então a língua dos textos sagrados.

Cabe esclarecer que embora o dinamarquês e o norueguês sejam muito parecidos, eles não são idênticos. Podemos pensar, a modo de comparação, nas semelhanças e diferenças entre o espanhol e o português. Vejamos um exemplo: a palavra “esperança” é håp em norueguês e håb em dinamarquês – semelhantes e inteligíveis, mas não iguais.

 

Século XIX: A Noruega se separa da Dinamarca

Em 1814, tudo mudou. As Guerras Napoleônicas haviam chegado ao seu fim. A Dinamarca havia decidido apoiar a França – isto é, os perdedores da guerra -, mas a Suécia havia sido aliada dos ganhadores e, portanto, estava em uma posição de vantagem.

Assim, por pressões políticas, a Noruega foi retirada do domínio dinamarquês e passou a ser um território semi-independente, em união com os suecos.

A partir de então, e como consequência dos movimentos nacionalistas que tomaram forma na Europa nessa mesma época, houve muitas discussões entre intelectuais noruegueses sobre o que fazer com a língua escrita do país. Alguns conservadores queriam manter o dinamarquês escrito, mas na verdade, poucas pessoas falavam essa língua.

Como a ideia de educação pública estava se expandindo pela Europa no século XIX, essa decisão precisava ser tomada, também, para saber qual seria o melhor sistema a ser ensinado às crianças norueguesas nas escolas.

 

Era moderna: O surgimento dos dialetos Bokmål e Nynorsk

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Nos anos 1830, o assunto ganhou dimensões ainda maiores. Houve duas correntes principais de pensamento.

A primeira corrente era defendida por intelectuais que propunham utilizar – ou manter – a escrita do dinamarquês e deixá-lo mais “norueguesado”; a ideia era adaptar a escrita dinamarquesa à maneira de falar dos noruegueses urbanos e das classes mais altas. Essa corrente é principalmente associada ao nome do linguista, filólogo e educador Knud Knudsen.

A segunda proposta descende das ideias do filólogo, poeta e lexicógrafo Ivar Aasen. Ele viajou por toda a Noruega durante quatro anos, e nessa jornada, estudou os dialetos de várias regiões do país. Em 1823, Aasen propôs uma forma escrita completamente nova. Em vez de usar o dinamarquês como base da escrita e adaptá-lo às formas da Noruega, ele sugeriu fazer uma espécie de média aritmética de todos os dialetos noruegueses.

As duas estratégias foram aceitadas, e o resultado desse processo foi a criação das duas variedades da escrita norueguesa: o Bokmål, que deriva do dinamarquês, e o Nynorsk, que deriva dos dialetos noruegueses. Cabe ressaltar que esses não eram os nomes originais das variedades, mas depois de um longo processo, elas ficaram conhecidas assim.

Cerca do ano 1900, esses dois sistemas já coexistiam e eram utilizados simultaneamente no país. O Bokmål, porém, sempre foi mais dominante, sobretudo nas áreas mais urbanizadas.

 

A situação das duas variedades desde então e até hoje

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Em 1907, o governo norueguês instituiu uma reforma linguística referente tanto aos aspectos morfológicos como ortográficos da língua. O norueguês, finalmente, tomou a forma de uma variedade totalmente separada do dinamarquês. Além disso, nesse mesmo ano, o governo declarou que o ensino das duas variedades, Bokmål e Nynorsk, seria obrigatório em todas as escolas do país.

Até hoje, os dois dialetos são igualmente legais e todos os estudantes noruegueses aprendem as duas variedades nas escolas.

A Corporação de Radiofusão Norueguesa (NRK) apoia as duas variedades escritas. Além do mais, embora o Bokmål seja mais utilizado, muitos jornais também publicam textos em Nynorsk para promover esse sistema.

 

Afinal de contas, o Bokmål e o Nynorsk são muito diferentes?

Embora ambos sejam muito similares e totalmente inteligíveis para falantes de norueguês, eles também apresentam diferenças.

Como o Bokmål descende do dinamarquês, ele é, como se pode imaginar, mais próximo dessa língua. O Nynorsk é mais próximo dos dialetos rurais e muitos chamam-no de “puro”, pois é mais parecido com o Antigo Nórdico que era falado há vários séculos.

A modo de comparação, vejamos algumas palavras:

Noruega:

Bokmål – Norge

Nynorsk – Noreg

(Ambas formas são utilizadas em passaportes e em selos nacionais.)

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Eu:

Bokmål – Jeg

Nynorsk – Eg

Amor:

Bokmål – Kjærlighet

Nynorsk – Kjærleik

 

Que variedade eu devo aprender?

Se você está estudando norueguês, o mais provável é que, por questões de praticidade, seu professor esteja lhe ensinando o Bokmål. Você pode escolher usar qualquer um dos dois e jamais terá nenhum tipo de problema para ser compreendido, tanto em contextos informais quanto formais.

Se sua intenção é procurar um emprego ou estudar na Noruega, talvez seja melhor você se concentrar no Bokmål, já que as maiores cidades do país, incluindo Oslo, dão preferencia a esse sistema de escrita.

Se você vai visitar ou se mudar para as cidades mais rurais, o Nynorsk será mais útil tanto para ler sozinho quanto para aprender a conversar com as pessoas, pois este sistema é mais próximo dos dialetos do interior do país.

Cabe lembrar que esses sistemas são válidos apenas para a escrita. Os noruegueses, quando falam, usam o seu próprio dialeto, mesmo em contextos formais. Todos os dialetos falados no país são igualmente corretos e aceitos.

Como estrangeiros, já é esperado que nós falemos um norueguês estândar e que jamais será parecido a nenhum dialeto do país. Portanto, relaxe! Os noruegueses dizem que podem identificar qualquer estrangeiro de maneira imediata, e que adivinhar o lugar de origem de uma pessoa é seu jogo favorito.

Independentemente do sistema que você escolher usar para escrever, nós poderemos ajudá-lo em seu processo de aprendizado deste incrível idioma.

Entre em contato conosco hoje mesmo e aprimore seu nível de norueguês! Nossos professores nativos e qualificados estão preparados para ajudar você a aperfeiçoar suas habilidades – tanto escritas quanto orais – na língua norueguesa, além de possuírem conhecimento para ensiná-lo sobre as nuances e os aspectos culturais mais úteis e interessantes sobre esse país.

Ha det bra!

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