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(Antes de iniciar o post propriamente dito devo introduzir aqui um pequeno preâmbulo. Diante dos eventos ocorridos no Big Brother Brasil durante a madrugada de sábado para domingo, discutir a terminologia usada pela produção/participantes do programa parece inócuo. As palavras parecem coisas pequenas e fugazes diante de tamanha complexidade. Porém, esse é o ofício deste blog. Muitos outros já trataram especificamente a respeito do ocorrido com mais ou menos habilidade. Seguem alguns links de artigos interessantes analisando a questão por diversos aspectos e lados: Tabnarede, R7 (Record), Ego (Globo).

 

O BBB (Big Brother Brasil) é a singela alcunha da versão brasileira do reality show criado pela rede de TV holandesa Endemol que consiste em trancar alguns comuns… bom, você deve saber como isso funciona. Há alguns anos atrás, o Big Brother foi uma coqueluche e um sucesso em todo o mundo (alguns analistas de mídia sugerem que o número de países a adotar o Big Brother foi maior do que o número de países a adotar uma constituição). Porém, essa epidemia (na verdade, pandemia) parece já ter passado em todo o mundo. Com exceção, é claro, do Brasil. Costumamos a dizer por essas bandas tropicais que em nenhum outro lugar do mundo o Big Brother foi tão bem sucedido.

 

As edições brasileiras, rigorosamente anuais, ocupam praticamente todos os noticiários, rodas de discussão (e agora, redes sociais) das férias de verão. O BBB é um programa amado por todos, já que aqueles que não o amam, amam odiá-lo, falar mal dele, usá-lo como evidência para a decadência social, cultural, ética, etc.

 

Como é impossível escapar, ao menos ao assunto BBB, dedicarei-lhe este texto. Como este é um blog de linguagem, analisarei brevemente um dos termos do vocabulário do programa. Sendo o apresentador do programa o jornalista/cronista/escritor Pedro Bial, um homem conhecido pela sua vertente poética de um apolíneo quase caricato, é muito difícil acreditar que ele (e/ou sua vertente apolínea) não tenha exercido poderosa influência sobre a terminologia utilizada no programa (e, consequentemente, nos blogs, nos programas vespertinos, nas análises de mídia, nas mesas de bar, nas redes sociais…).

 

Na tentativa de gerar uma identificação ainda maior entre público e participante (não seria essa a maior força de um reality show?), a produção do programa passou a usar o termo brother para se referir aos participantes do programa do sexo masculino e sister para as participantes do sexo feminino. Aparentemente, tal denominação seria naturalmente derivada do nome do programa. Porém, tal derivação não é tão lógica como parece.

 

Como todos sabem, a rede holandesa Endemol retirou o nome Big Brother da obra “1984” de George Orwell (o problema é que poucas pessoas leram, ou ao menos assistiram o filme, “1984”…). Nessa obra, Orwell descreve uma Inglaterra fascista e isolada do restante do mundo, onde os cidadãos são vigiados o tempo todo e todas as informações que chegam até eles são controladas (pelo Ministério da Informação). Além disso, esse estado fascista futurista inglês controla até mesmo a língua, alterando a língua inglesa para uma forma mais segura, (à prova de ideais subversivos) denominada novalíngua (qualquer semelhança com estaleca, brother, sister…não é mera coincidência). O chefe de tal estado fascista, que nunca é visto fora das telas, o que sugere que seja uma “ficção”, é conhecido como Big Brother (O Grande Irmão). Figura bondosa e controladora ao mesmo tempo, o Grande Irmão vigia e reprime para o próprio bem de seu irmão menor: o povo. (Qualquer semelhança com a figura do “Pai dos Pobres” tão querida no imaginário brasileiro é realmente mera coincidência…).

 

Logo, na obra de Orwell, o Grande Irmão são aqueles que observam os cidadãos. É o conjunto de funcionários do governo fascista que observa os monitores das câmeras que vigiam os cidadãos, que, seguindo a lógica da analogia do próprio programa, seriam os telespectadores. Nós, e não os participantes do programa, seriamos os verdadeiros brothers .

Porém, em vista da impossibilidade dos telespectadores de interferir prontamente nos acontecimentos de domingo (ao contrário, do governo fascista de Orwell), da pressa da emissora de TV em tentar retirar o vídeo do caso da rede, do tratamento dado pela mesma ao caso e do modo como o apresentador Pedro Bial noticiou e se referiu ao mesmo, o telespectador parece estar tão longe quanto os participantes de ser o “big brother”, e, talvez, a analogia ao Big Brother de Orwell seja muito mais precisa do que se pensava…

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