Coxinha na motocicleta
Continuando a narrar as teorias (ou lendas) a respeito da origem da gíria paulistana “coxinha”, chegamos a um uso que muitos consideram como o primeiro deles e que eu, até pouco tempo, desconhecia. O uso da gíria “coxinha” no contexto dos motoclubes.
“Coxinha”, no ambiente de um motoclube, é o termo utilizado para designar o motociclista que tem excesso de zelo com sua motocicleta. Tal excesso acabaria levando-o a não usar a motocicleta – evitando os dias de sol para não estragar a pintura e os de chuva pelo mesmo motivo. O “coxinha”, então, embora sempre presente nas reuniões e festejos do motoclube (ou encontros de motoclubes), jamais participa de viagens longas (pelo menos não de motocicleta) e, portanto, não seria um membro ativo no motoclube (ou pelo menos, não seria um membro ativo do motoclube “na estrada”, o que, afinal, é o que interessa).
Esse excesso de zelo com a motocicleta seria reflexo de um excesso de zelo com a vida como um todo. Por isso, o “coxinha” também possui outras características que se opõem ao estilo de vida aventureiro de seus companheiros de motoclube, por exemplo, o fato de só usar brincos de pressão (assim não é preciso furar a orelha) e de só fazer tatuagem de henna (assim não é preciso furar a epiderme). Logo, já que coxinha implica em não ser um verdadeiro membro do motoclube, pode-se entender o sentido depreciativo de seu uso pelos motociclistas.
Não é atoa que eu não conhecia o termo. Afinal, não sei pilotar motocicletas e nas poucas vezes nas quais andei de garupa ainda não apreciei muito. O mais próximo que já cheguei de um motoclube foi ter ficado hospedado no mesmo hotel que um grupo de membros. E, pelas conversas, se eu tivesse gasto tanto dinheiro com uma máquina, certamente a trataria como faz um coxinha…
Mas, por que coxinha? Porque os motociclistas escolheram a designação desse popular salgado para aplicar a tais casos?
A explicação que encontrei é que, na verdade, coxinha seria uma corruptela de coxia: (segundo a Wikipedia): “A coxia ou bastidores é o lugar situado dentro da caixa teatral – mas fora de cena”. O termo passou a ser usado por alguns membros do motoclube, por que, a coxia era o local onde os amigos dos artistas (que acompanhavam a trupe, mas não se apresentavam) ficavam. Ou seja, aqueles que acompanham a trupe (mas, não faziam parte da trupe) ficam na coxia ou vão de coxia. Assim, os motociclistas que apenas acompanham o motoclube, não tomando parte das viagens, ou seja, da atração principal do motoclube, ficam na coxia.