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Palavras não são apenas palavras. São muito mais importantes do que isso. Mesmo com a cotação das imagens sendo mais de mil (pouco mais ou muito mais, não sei) para cada palavra, essas últimas são os átomos de toda a comunicação humana. Quadros ou filmes mudos possuem títulos que servem de ponto de partida para a interpretação dos mesmos. A linguagem Libras utiliza-se de gestos para simbolizá-las. Não importa o quão baixa seja a sua cotação ou a consideração que a elas direcionamos, vivemos em uma sociedade das palavras. Nossas regras fundamentais de convivência só são assim consideradas depois de serem escritas. O mesmo acontece com todas religiões, todas elas fundamentadas em textos sagrados. “No princípio era a palavra”.

 

Palavras não servem apenas como preceitos ou regras. Palavras geram emoções, sejam elas oriundas de seu significante (a coisa que significam) ou do seu próprio som. Palavras comunicam desejos e necessidades. Palavras ofendem e elogiam. Palavras mudam vidas. Porém, esse é um caminho de mão dupla. Não são apenas as palavras que nos influenciam, nós influenciamos as palavras. Mudamos seus significados, fazemos diferentes usos, criamos metáforas, significados figurados. Temos em alta conta as palavras de que gostamos (reservando-as para os melhores momentos) e destratamos as de que não gostamos. Podemos, até mesmo, sermos injustos com algumas palavras.

 

Uma dessas palavras injustiçadas é o verbo “achar”. Não quando usada como sinônimo de “encontrar”, mas quando indica uma “opinião” ou a “falta de certeza”. Poucas palavras são tão mal vistas quanto o verbo “achar”. Basta que o falante o conjugue e o utilize para começar a sofrer as conseqüências. Eu acho que eu estava em casa, lhe torna automaticamente o principal suspeito de um crime. Eu acho que posso operar essa máquina lhe custa o emprego. O eu acho que eu te amo , então, destrói sua relação.

 

Pode-se dizer, é claro, que isso acontece porque o “achar” expressa fraqueza, insegurança. Mas, o que é mais inseguro e incerto do que a própria certeza? De quantas coisas podemos ter certeza, certeza mesmo, certeza absoluta? Talvez a verdadeira fraqueza esteja em se esconder atrás de uma falsa certeza e não admitir o quão frágil toda certeza, no fundo, é.

 

Proponho aqui que comecemos uma campanha para resgatar a dignidade do “achar”. É simples. Todos podem ajudar. É só começar a dizer mais “eu acho”. Mesmo quando alguém lhe perguntar que horas são, afinal, seu relógio pode ter quebrado.

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