Falácia e argumentum ad hominem
No texto anterior, comentamos sobre debates e os rabos de arraia que, nesse caso, atende pelo nome de batismo de argumentum ad hominem. Argumentum ad hominem (algo como argumento contra o homem ou a pessoa) é uma das espécies de falácia catalogadas.
Falácia é o nome dado a um argumento inconsistente, falho ou inválido em provar aquilo que alega. Tal invalidade não está necessariamente ligada ao valor de verdade da coisa a ser provada – ou seja, se a coisa a ser provada é verdadeira ou falsa – e se aplica apenas aos argumentos utilizados em uma determinada alegação. Ou seja, é possível defender ideias coerentes (e verdadeiras) fazendo uso de falácias, assim como, é possível defender ideias incoerentes (e não verdadeiras) sem usar (apenas) falácias.
As falácias são muito utilizadas em discussões ou debates devido a seu grande poder de convencimento. Nem todas as falácias são utilizadas “de má fé”, para enrolar e ou fazer com que a pessoa com a qual se discute incorra em erro. Às vezes, o próprio defensor de uma determinada ideia acaba por incorrer em erro e em sua ânsia de provar a coerência ou veracidade de suas afirmações acaba por fazer uso de uma ou mais falácias.
Existem diversas espécies e subespécies de falácias que vêm sendo catalogadas pelos filósofos desde que Aristóteles separou a Lógica e a Retórica (a arte do bem falar). Embora as falácias sejam condenadas e mal vistas pela Lógica (onde são consideradas como “golpes baixos”), elas continuam sendo ferramentas de imenso poder e utilidade na arte da retórica.
O argumentum ad hominem é uma espécie de falácia que consiste em desconsiderar o argumento ou a proposição (ideia, opinião, etc.) em si e atacar o autor da ideia de forma direta (o argumentador) ou indireta (o autor original da ideia que o argumentador defende, um grupo do qual o argumentador ou autor da ideia faça ou tenha feito parte, etc.). Ou seja, com essa falácia, a pessoa desvia a atenção do argumento ou da ideia em si e joga sobre uma característica ou evento pessoal do “oponente”. Característica essa que é completamente irrelevante para o debate em questão.
Geralmente esse tipo de falácia se apresenta na forma de “ataques” ou golpes contra o oponente. Sejam eles de cunho ideológico (reacionário, comunista, fascista), religioso (fariseu, ateu), econômico, etc.
Mas se as falácias são tão comuns em debates, por que o argumentum ad hominem deve ser usado como indício do fim ou da impossibilidade da ocorrência de um debate saudável? Discutiremos isso no próximo post.