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No post anterior, tratamos de algumas características que definiam o gênero de prosa conhecido como folhetim. Ao se ter em mente as características narrativas de um folhetim, a saber, narração episódica, narrativa ágil e a presença de ganchos no fim de um episódio, é fácil entender porque as telenovelas também são chamadas de folhetins televisivos (ou simplesmente de folhetins). Afinal, tais aspectos narrativos são importantes características das telenovelas. Vimos também que o folhetim deu origem não só as telenovelas (que viriam bem mais tarde), mas também a diversas outras formas de narrativa (como os romances policiais, as revistas pulp, as fotonovelas). Por terem herdado tais características, essas narrativas são muitas vezes classificadas como narrativas folhetinescas.

 

Neste post, trataremos de um dos primeiros herdeiros do folhetim: as radionovelas. Conforme o rádio foi tomando o espaço da imprensa escrita como o principal meio de comunicação de massa, o entretenimento de massa, que usava a imprensa como “meio” (no caso, o folhetim), aos poucos migrou para o rádio. Os primeiros resultados dessa migração eram versões dramatizadas de novelas literárias encenadas diante dos microfones do rádio. Logo, radionovelas. Mais tarde, com a consolidação do gênero, as tramas passariam a ser criadas especialmente para esse veículo explorando e aproveitando melhor os recursos específicos desse novo formato.

 

Da mesma forma que o folhetim fizera alguns séculos antes, as radionovelas, mesmo tendo se aproveitado da popularidade do meio de comunicação em um primeiro momento, se tornaram o grande atrativo para a compra de um aparelho de rádio e foram vitais para sua popularização e para o surgimento da chamada “era de ouro do rádio” (ou apenas “era do rádio”). Com o aumento da popularidade, as radionovelas passaram a usar cada vez mais e melhores atores. Além disso, fazia-se necessário o uso de efeitos sonoros melhores e mais realistas. Dois fatores que acabaram elevando seus preços de produção. Com os valores de produção cada vez mais altos, as estações de rádio passaram a depender cada vez mais dos anunciantes. Tais anunciantes eram principalmente fabricantes de produtos de higiene pessoal ou voltados ao público feminino, uma vez que a maioria esmagadora da audiência das radionovelas (quase 70%) era composta por mulheres. Muitos deles (como a agência de propaganda que cuidava da conta da empresa do creme dental Colgate no Brasil) chegaram até mesmo a produzir e financiar as radionovelas transmitidas pelas emissoras.

 

Com o surgimento e popularização da TV, contudo, a maior parte desses anunciantes migrou para o novo veículo, tornando inviável a produção de radionovelas e levando-as à extinção. Embora, é claro, tenha havido tentativas posteriores de reavivar o gênero, nenhuma delas foi bem sucedida em repopularizá-lo. Contudo, podemos considerar que uma partezinha das radionovelas vive ainda hoje nos audiobooks. Embora esses últimos, via de regra, não possuam efeitos sonoros, muitas vezes carregam na voz do narrador, dependendo do talento e do estilo do mesmo, fortes traços de dramatização. Principalmente quando o book registrado em áudio possui diálogos em abundância.

 

Outra curiosidade a respeito das radionovelas era que, assim como ocorre atualmente com as novelas em mídia televisiva, os latino-americanos eram os mestres do gênero. Porém, não eram os mexicanos, mas sim os cubanos, os mais famosos produtores desse gênero narrativo. Antes da revolução de Castro e Guevara, as radionovelas cubanas percorriam o mundo todo, a exemplo do que fazem hoje os folhetins televisivos brasileiros e mexicanos. Ao contrário de suas irmãs mais novas, porém, as radionovelas cubanas podiam durar mais de um ano (com algumas chegando a durar até três anos). Com algum esforço e muita paciência talvez seja possível encontrar na internet uma antiga radionovela cubana (mais difícil) ou uma de suas inúmeras adaptações para outros países latino-americanos (mais fácil). Assim como ocorre com as novelas atuais, tais obras populares podem ser uma interessante e inusitada atividade para aqueles que frequentam Aulas de espanhol em São Paulo e se interessam por novas formas de praticar o entendimento do idioma.

 

No Brasil, as radionovelas fizeram um estrondoso sucesso entre as décadas de 40-60. Porém, com a popularização dos aparelhos de TV no Brasil e com as adaptações de algumas de suas obras mais populares e bem sucedidas para a mídia televisiva, as radionovelas foram perdendo popularidade até serem praticamente extintas nos anos 70.

 

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