img_logo_br

Parte 3 e Final

Embora algumas novelas mexicanas (como A Usurpadora) tenham feito razoável sucesso, a grande preferência dos telespectadores brasileiros é mesmo pelas novelas nacionais produzidas pela TV Globo, apesar de uma ou outra exceção, de tempos em tempos, como Pantanal, por exemplo. As telenovelas são de longe a forma de narrativa mais popular no país, e mesmo com a recente diminuição do público de TV (afetando os programas de forma geral), continuam a apresentar incríveis níveis de audiência. O último capítulo do último grande sucesso da teledramaturgia brasileira, Avenida Brasil, por exemplo, gerou uma audiência e uma expectativa comparáveis as de uma final de Copa do Mundo (e o capítulo, em mim, gerou uma sensação semelhante à final de 1998…).

 

A comparação com o futebol não ocorre por acaso. As novelas ocupam um papel de destaque e participação na cultura pop brasileira que, talvez, só possa ser igualado pelo futebol. Existem publicações periódicas para discutir e revelar os capítulos futuros, capítulos são discutidos em tempo real no twitter e analisados e criticados posteriormente em sites da internet e até em programas de canais concorrentes, tramas e personagens são discutidas em bares, salões de beleza e em jantares de família…

 

Até pouco tempo atrás, essa cultura “extracapítulo” das telenovelas era limitada às mulheres. Assim como acontecia com as radionovelas e com as fotonovelas, as telenovelas também tinham como alvo o público feminino (o que não quer dizer que seu público real era apenas feminino). O que compactuava com uma espécie de divisão de gêneros na cultura popular brasileira: a novela era o programa e o assunto das mulheres, enquanto o futebol era a diversão e o assunto dos homens – engraçado que até o gênero das palavras, novela e futebol, parecia compactuar com essa divisão de gênero. O que me traz a mente uma propaganda de rádio que pode ser usada como um exemplo clássico desse cisma: a primeira parte mostrava três diferentes diálogos curtos de homens conversando a respeito do capítulo da noite anterior de uma novela. Na segunda parte, em tom jocoso, o narrador anunciava uma escola de inglês que realizava uma promoção cujo prêmio era uma viagem para Londres. O principal motivo para se participar de tal promoção – e para se matricular na escola – era cumprimentar pessoalmente os ingleses por ter inventado o futebol. E, por conseguinte, por terem fornecido aos homens um assunto para conversar ao invés das novelas. Não se pode negar, é claro, que existem diversos motivos para se conhecer Londres e para se matricular em um Curso de Inglês em Curitiba ou em qualquer outra cidade do país, mas esse dificilmente poderia ser considerado como o mais interessante (e / ou nobre) deles.

 

Contudo, nos últimos anos, com os avanços recentes nas questões de gênero, as mulheres romperam o alambrado e passaram, juntamente com suas opiniões (ainda bem) a serem aceitas no universo cultural do futebol. Em contrapartida, essa mesma abertura no alambrado permitiu a passagem dos homens para o universo cultural das telenovelas (mais uma vez, ainda bem). Daqui a muitos anos, pesquisas irão revelar que essas duas mudanças no ambiente cultural popular melhoraram a comunicação no interior das famílias, entre colegas de trabalho, etc. Tamanha a importância da novela para a cultura popular desse país. Ou, como é mais provável, talvez tais pesquisas jamais sejam feitas, devido a um preconceito com a cultura popular que se torna maior ainda quando se une ao preconceito de gênero em considerar as radionovelas, fotonovelas e telenovelas como coisas de “mulherzinha” e, por conseguinte, de pouca importância. No caso dos dois preconceitos, nada mais longe da verdade.

Comentários sobre O Folhetim está na TV