O rabo de arraia
Nos momentos finais de uma das minhas aulas, debatia com alguns alunos do ensino médio a respeito dos benefícios do debate. De como o debate saudável pode servir para ampliar os conhecimentos, chamar atenção para um fato que até então havia passado desapercebido, ou seja, mesmo que você não mude de ideia e nem convença seu interlocutor a mudar de ideia (ou seja mesmo sem ganhador ou perdedor) , submeter sua opinião ao debate pode apontar incoerências e / ou problemas dos quais você ainda não havia se dado conta em sua visão do mundo. Porém, no final, acrescentei uma pequena ressalva: não existe argumento contra o rabo de arraia
.
O rabo de arraia também chamado de Meia Lua de Compasso é um golpe de capoeira. É aplicado mais ou menos da seguinte forma: estando em uma posição lateral com relação ao seu oponente, agacha-se sobre a perna da frente enquanto a perna de trás é mantida estendida. O lutador, apoiando ou não as mãos no chão, aplica um golpe giratório, “varrendo” a área a sua frente com a perna estendida (em um movimento similar ao da cauda de uma arraia).
Dentro da capoeira, o rabo de arraia é classificado como um golpe traumatizante – um golpe para ferir – em oposição a um golpe desequilibrante – um golpe que visa desiquilibrar o oponente. Pela descrição do golpe, pode-se perceber que o golpe combina beleza plástica com potência em um único movimento. Não é a toa que é um dos golpes mais famosos, senão o mais famoso, da capoeira, tanto que seu nome passou do léxico específico da arte marcial, para o vocabulário cotidiano.
É claro que, na frase citada no primeiro parágrafo, não alertei meus alunos sobre os riscos de se debater com um capoeirista. O rabo de arraia ali foi usado para simbolizar uma falácia muito comum que atende pelo nome técnico em latim de Argumentum ad hominem.
Mas, o que é uma falácia? O que é um argumentum ad hominem? O que ele tem a ver com um golpe de capoeira? Tratemos sobre essas questões nos próximos textos.