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Parte 2: A Locomotiva

 

Bom, engatamos aqui no gancho que foi lançado no artigo anterior e continuamos a discutir brevemente a origem da palavra trem e de seu uso típico (e mais abrangente) por parte dos mineiros (também, conhecidos, formalmente, como falantes do dialeto mineiro). Peguemos, então, novamente o trem.

 

Os trens, como o conhecemos, foram criados pelos ingleses durante a revolução industrial. O comboio ferroviário recebeu esse nome de uma série de veículos puxados por tração animal (carruagens) ligados entre si e que percorriam uma trilha específica. Da Inglaterra, a palavra train veio para o português, por empréstimo, na forma trem. Já a palavra inglesa, train, por sua vez tem sua origem ligada ao verbo francês trâiner que significa “puxar”. Um processo semelhante se manifesta na língua alemã onde os trens são chamados de “Zug”, que vem de “zog”, passado de ziehen que significa puxar. O mesmo acontece no búlgaro e no húngaro.

 

Portanto, o argumento está baseado na falácia da etimologia fantasiosa. Embora trem possa sim se referir a um conjunto de objetos, se refere a um conjunto de objetos (pelo menos em sua origem em diversas línguas como explicado acima) “puxados”, e não a um conjunto de objetos per se. Portanto, o que caracteriza o “trem” (e o que levou os ingleses a batizarem o veículo com o nome que tomamos por empréstimo) não é o fato de ser composto por vários objetos, mas o fato de tais objetos estarem sendo puxadas (por uma tração frontal). Ou seja, isso significa que o trem como comboio ferroviário não deriva diretamente do conjunto de coisas. Logo, é o trem mineiro que deriva do trem “genérico” (por especificação, um conjunto de coisas puxadas passou a designar qualquer coisa) e não o contrário.

 

É preciso salientar, contudo, que o objetivo deste post é provar que o argumento é falacioso (está errado) e não que os mineiros estão errados. Nesse caso, como se trata de uma questão de variação linguística, não cabe a aplicação de temos como certo ou errado, se coubesse as próprias variações linguísticas não existiriam (teríamos uma língua padrão correta e engessada). Portanto, não há a necessidade nenhuma de provar que se está certo, ou quem deriva de quem, ou de inventar argumentos falaciosos e etimologias fantásticas para expressar ou sentir-se orgulhoso do dialeto mineiro. O dialeto mineiro, assim como o povo que o fala, é “doidimais”. Então, não é preciso dizer mais nada, sô.

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