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Parte 1 – O Inimigo

Dia desses num repente e num rompante, decidi escutar o audiobook (logo eu que, radical, considerava os audiobooks como um símbolo da preguiça de ler) de A Arte da Guerra enquanto fazia uma curta caminhada com uma curtíssima corrida (logo eu que, radical, acho totalmente desesperador andar sem um destino programado). Além dessa birra (ou pé atrás) com a caminhada e com os audiobooks, eu, sempre radical, tinha uma birra também com A Arte da Guerra. Nada contra o Sun Tzu, a sabedoria oriental ou a milenar obra em si. Eu tinha birra era das pessoas das mais diversas áreas que liam o texto e faziam dele seu livro de cabeceira, citando-o a todo o momento e em cada conversa na qual o assunto trabalho teimava em dar as caras sustentadas por seus sete longos pescoços. Eu achava que era totalmente descabido que um livro fosse considerado como essencial, por um prisma mais prático e não estético, por advogados financistas de Nova York, empresários do agronegócio de Pretória e coordenadores de escolas de idiomas com Aulas de inglês em Florianópolis (como esses últimos – não os de Florianópolis, mas os de São Paulo – foram meus chefes diretos por um tempo, podem ser a origem da minha birra, Freud explica) sem que houvesse uma imensa distorção em seu conteúdo ou espírito. Ouvindo o audiobook (enquanto caminhava) fui logo percebendo que estava, radicalmente, enganado.

 

A medida em que ouvia, percebia que Sun Tzu não tinha nada haver com autoajuda profissional ou com a “sabedoria oriental” genérica de biscoito da sorte. Pelo contrário, a Arte da Guerra era uma coleção de conselhos e sugestões práticas, destinados aos generais, de como conduzir uma guerra e seus exércitos aos campos de batalha nos tempos antigos. Esses conselhos abordam desde aspectos econômicos e políticos da guerra (“qual a quantidade necessária de recursos para manter o exército em campanha?” “É melhor eliminar ou aprisionar o exército inimigo?”) até os aspectos militares propriamente ditos (“qual é a melhor maneira de lidar com um pântano?” “Qual é o melhor momento de atacar?”).

 

Mas, quais seriam os motivos pelos quais um guia prático (quase uma seção de FAQ) das guerras em tempos antigos se tornaria o livro de cabeceira de profissionais tão distintos em locais tão distintos? Após terminar a audição do audiobook e a segunda caminhada (acabei ouvindo-o em duas sessões) fui capaz de imaginar ao menos um motivo e esse foi o suficiente para me satisfazer. Que motivo foi esse, na segunda parte, ainda essa semana. Até lá.

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