Quando jovem todos são de esquerda
A jovem esquerda, a atual juventude comunista, já nasceu com o Muro de Berlim no chão ou próximo dele. Viu a Perestroika. Nunca correu o risco de ser exilada ou torturada, e muitos foram até estimulados pelos pais a serem de esquerda. Além disso, estão assistindo a China se transformar em um sistema misto (que por incrível que pareça combina o pior dos dois sistemas). Sem um movimento estudantil consistente, decepcionada com o PT, sem uma esperança de governo comunista, a jovem esquerda parece que só é movida pelas palavras de Cazuza: “Ideologia! Eu quero uma pra viver!”. Abaixo, apresento o vocabulário básico para identificar os membros dessa corrente ideológica.
Estadunidense: Qualquer um que se refere aos norte-americanos dessa forma (porque América do Norte também inclui Canadá ou México) ou evita falar americanos (porque América também inclui a do Sul e Central), embora esteja certo geograficamente esquece que as duas anteriores já são formas cristalizadas e consagradas. Ou seja, deixaram de significar exatamente o que significavam para significar os habitantes dos EUA (sem contar que a pragmática também pode ajudar a resolver o problema). Qualquer um que ignore esse fato, usando essa palavra, ou é um Boliviriano anacrônico (que acredita na união dos povos sulamericanos), é um “odiador” do imperialismo americano ou é um chato que quer mostrar que conhece geografia. Grande parte dos usuários desta terminologia combina as duas coisas.
Transnacionalização do Capital: Qualquer pessoa que usar essa terminologia gigantesca no lugar de globalização fora do contexto de um trabalho acadêmico é da Nova Esquerda e está abusando dos clichês…
Neoliberal: Usado como insulto (principalmente, se acompanhado da palavra porco), só pode ser feito pela esquerda jovem (que aprendeu essa palavra no segundo governo Fernando Henrique Cardoso).
Movimento estudantil/luta estudantil: O movimento estudantil e suas associações tiveram muita influência política na época da ditadura. Hoje em dia, os centros acadêmicos só servem para montar salas com mesa de sinuca e TV para ver jogos da UEFA Champions League em horário de aula. As grandes organizações estudantis nacionais só servem para emitir carteirinha pra pagar meia em shows, albergues. Logo, qualquer um que use tais termos em qualquer contexto político é um jovem comunista e saudosista (precoce) inveterado.
Universidade popular/deselitizada: Outro grito básico do jovem esquerdista. Universidade Popular Pública e de qualidade para todos. Justo, é claro. Embora, por uma questão de ordem, precisássemos de um Ensino Fundamental (ou antes, Infantil) de qualidade, público e para todos. Mas, ignorar esse fato é típico da juventude esquerdista (afinal, 85% estão ou são amigos de quem está na universidade e estudaram em colégios particulares…)
Questão de ordem: Qualquer pessoa que use a expressão “Questão de ordem” fora do contexto de uma assembleia (UPS! Eu usei acima) tem fortes tendências da nova esquerda. Geralmente a questão de ordem não é uma questão de ordem, é só para ganhar a palavra mesmo.
Bom, como muitos dos termos da velha esquerda ainda são usados pela nova esquerda e a diferença entre eles é apenas de geração, creio que esgotamos nosso léxico por aqui. Na próxima análise de léxico, saiba como reconhecer os novos engajados: os verdes!