Quebrando o Trauma
Parte 1 – A TV é Cool
Quando se trata de carreira no meio do entretenimento, as séries de TV sempre estiveram para o cinema como uma série B, uma segunda divisão. Mesmo atores de sucesso em seriados tinham dificuldades em migrar para bons projetos na tela grande (Jennifer Aniston), aqueles que eram bem sucedidos não pensavam em retornar (George Clooney) e os “refugos” da telona viravam estrelas da telinha (Kiefer Sutherland , Charlie Sheen). Esse sentimento e status de rebaixamento continua a ocorrer mesmo com toda atenção e hype que as séries de TV vêm ganhando nos últimos anos, basta ver os exemplos de Chris O’Donnell – sumido (de vergonha) desde Batman e Robin – que voltou em NCIS: Los Angeles e Jim Caviezel que só conseguiu ressuscitar sua carreira, morta com A Paixão de Cristo (2004), com Person of Interest (2011).
Agora, quando falamos em termos de narrativa, as séries de TV passaram a perna em Hollywood faz tempo. Engraçado que um dos motivos pelos quais a TV seria a Série B do entretenimento (ao passo que Hollywood seria a Série A) seria sua caretice. Na definição de Miguel Falabella, TV é uma coisa careta que serve para vender shampoo. Contudo, em termos de narrativa de entretenimento pop, de uns anos para cá, a TV está muito à frente do cinema, que cada vez mais se torna uma coisa careta para vender bonequinho (foi mal, action figure).
Um exemplo desse pioneirismo da TV em relação à caretice do cinema é a série de TV 24 Horas. As duras horas extras de Jack Bauer (“Drop the gun!”) em seu estilo mais duro e proletário revolucionaram o gênero de thriller de espionagem. O impacto de Bauer foi tão grande que forçou e pautou o reboot das aventuras de James Bond no cinema, que assumiu, em Daniel Craig, sua primeira versão loira e com traços menos aristocráticos.
Enquanto o cinema se torna cada vez mais previsível com as mesmas tramas (outro Velozes e Furiosos?) e com os mesmos astros, a TV abre espaço para novos atores que, se ainda podem ser considerados como de série B em termos de cachês, devem ser considerados como de série A em termos de atuação. Ao ponto de ao fim de Breaking Bad, Sir Anthony Hopkins ter escrito pessoalmente um e-mail ao protagonista da série, Bryan Cranston, dizendo que ele era o melhor ator que Hopkins já havia visto em ação. Mais do que isso, o interprete do mais famoso vilão do cinema, considerou o trabalho de elenco de Breaking Bad como o melhor que ele já havia visto na vida. Eu não entendo muito de trabalho de elenco, mas acredito no que Anthony Hopkins tem a dizer sobre assunto. Porém, acredito já ter assistido séries e filmes suficientes para reconhecer uma boa história e considero essa tragédia grega ou shakespeariana (poxa, eu li até o “Nascimento da Tragédia”) como uma das melhores coisas que já vi, não só na televisão, mas nas mídias de entretenimento em geral nos últimos anos.
Além do sensacional entretenimento, Breaking Bad tem um significado muito pessoal para mim por ter me curado de um trauma: o trauma de Lost. Mais sobre esse mal (do qual, certamente, não fui o único a sofrer) e de como fui curado por Breaking Bad na continuação deste texto.