Representatividade I

ou Eles não ligam para nós

Em 1995, Michael Jackson veio ao Brasil para gravar, com a participação especial do grupo Olodum, o clipe de They don’t care about us (Eles não ligam para nós). O clipe gravado no Pelourinho foi dirigido pelo cineasta negro e militante Spike Lee. Escolhas coerentes para uma música de protesto contra o racismo e contra a desigualdade social, com um refrão marcado pela poderosa e indignada frase: Eles não ligam para nós (que tal buscar um Curso de Inglês em Florianópolis para iniciar ou aprimorar seus conhecimentos de língua inglesa e tirar sua própria conclusão a respeito das acusações de antissemitismo feitas a Michael).

Daquele ano para cá, muita coisa mudou no Brasil. O país diminuiu os níveis de analfabetismo, tornou-se a quinta economia do mundo, contou com a ascensão social de milhares de pessoas da pobreza para a classe C. Porém, no Pelourinho e em outros lugares, muito pouco mudou, principalmente, com relação a esse sentimento (ou percepção) de que eles não ligam para nós.

Pelo contrário, esse sentimento ou percepção parece ter se espalhado para além dos “barracos da cidade”. A cada dia mais e mais pessoas da classe média parecem ter perdido a esperança na capacidade dos governos e dos partidos políticos de fazer algo em prol do país. Mais do que isso, a cada dia se perde a esperança de que os partidos tenham vontade (a tão falada vontade política) de fazer algo em prol dos serviços fundamentais e da infraestrutura do país, ao invés de se concentrar apenas em índices e indicadores macroeconômicos ou sociais.

Os partidos e seus integrantes (eleitos ou não, governo ou oposição) parecem estar cada dia mais distante das ruas, do povo, do mundo real. Passam a impressão de estar cada vez mais absorvidos em sua própria burocracia, se degladiando em uma arena de siglas, acordos e negociatas, enquanto à educação e à saúde pública vão à falência. Parecem, enfim, cada vez mais envolvidos na luta para manter (e conquistar novos) “podres poderes”.

É justamente esse sentimento, esse misto de descrença e revolta que está servindo como combustível para a ebulição social que o País vive nas últimas semanas.

Continua…