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Continuando….

 

Enfim, Schadenfreude é uma palavra alemã – utilizada em outras 16 línguas – para descrever a sensação de frescor que sentimos quando a pimenta atinge os olhos de outro alguém. Afinal, pimenta nos olhos dos outros é refresco.

 

Por mais que eu tentasse evitar ou negar foi exatamente essa a sensação que me invadiu quando acabei por acompanhar de perto (ainda que distante geograficamente) os resultados das eleições paulistanas e norte-americanas. Na verdade, não foi bem o resultado, afinal, resultados são apenas números que não são capazes de sentir Schade. Porém, fui tomado pela Freude quando vi as manifestações de eleitores, jornalistas e outras pessoas que apoiavam tais políticos conservadores. Todos eles (tanto lá como cá) com aquela cara de quem não sabe o que, exatamente, o atingiu. Todos com aquela expressão de triste confusão de quem perde um jogo ganho nos últimos minutos. Todos com aquela expressão de quem perde um jogo mesmo tendo feito tudo certo.

 

Primeiro, foi a eleição do petista Fernando Haddad em São Paulo. Seu adversário, José Serra, havia terminado o primeiro turno na primeira colocação. Um primeiro turno apertado que culminou com a eliminação do outrora líder das pesquisas e neoconservador Celso Russomano. Não se sabe se desesperado pelo bom desempenho do governo petista nas avaliações ou se desejoso de conquistar os votos que foram depositados em Russomano (voto evangélico e neoconservador) no primeiro turno, Serra e sua campanha abandonaram de vez qualquer resquício de social-democracia e caíram com tudo para direita. Aliaram-se ao pastor conservador Silas Malafaia, divulgaram uma versão conservadora da cartilha antihomofobia do governo federal (cartilha voltada para as crianças a respeito da convivência com LGBT), etc. Mas, de alguma forma, tudo isso não deu errado. Os votos de Russomano (pelo menos a imensa maioria) acabaram migrando para o adversário de Serra, Haddad. Principalmente, os votos dos moradores das regiões mais pobres da cidade, que, pelo visto, rejeitavam Serra mais do que apoiavam Russomano.

 

Depois, foi a eleição americana. Que embora não nos diga respeito diretamente (a nós, brasileiros) foi tão noticiada e discutida aqui: em telejornais, em bares, em aulas de conversação de curso de inglês em Belo Horizonte, em Juiz de Fora, em Varginha, enfim, por todo o país. E mesmo estando aqui acompanhamos a campanha de Romney se apoiar no fracasso da política econômica de Obama diante da crise mundial, na polêmica de seu plano de saúde (Obamacare) e na frustração com o governo de Obama (yes, we can, but not this much) para crescer, ganhar força e tornar a disputa realmente acirrada. De repente, Romney declara que todos os americanos não ricos são vagabundos, seus aliados dão declarações desastrosas sobre o estupro e sobre o voto feminino, enfim, Romney e seus aliados disparam todos os tipos de impropérios contra todos que não são homens brancos de classe média alta para cima. Resultado: Aqueles que não se enquadram nesse conjunto vão em peso até as urnas e levam à derrota o candidato republicano (basta ver os dados demográficos de quem votou em Romney e quem votou em Obama).

 

Nos dois casos, após a derrota foi grande a lamentação, a indignação e a incredulidade de jornalista e eleitores de Serra e de Romney com a derrota. Culpam aliados por falta de apoio, criam conspirações, culpam (e até ofendem) os eleitores do adversário. Mas, mesmo com toda a inteligência e cultura (da maioria, não de todos), falham em ver o óbvio: os conservadores estão se isolando. Cada vez mais. Se isolando em seus clubes privados, fazendas particulares, reuniões exclusivas da alta sociedade e condomínios fechados. De tanto se isolar parecem ter esquecido de que o mundo não se resume a, e nem deve servir apenas aos, interesses dos “seus”- homens brancos de classe alta. Enfim, os conservadores (neo e oldschool) precisam usar os resultados dessas eleições como um lembrete de que o mundo não termina em suas cercas e muros, pelo contrário, é além deles que o mundo começa.

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