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Ele não é malandro?
Então deixa se virar

Se vira, Maria Cecília e Rodolfo e Latino

Há muito mais pedras nos sapatos dos novos falantes, dos tradutores e dos alunos de língua portuguesa do que a “saudade” e a “malandragem”. Outra expressão muito difundida, difícil de ser explicada e muito ligada a nossa cultura (talvez, justamente por isso seja difícil de ser explicada) é a popular “se vira”. Sim, o “se vira” é tão brasileiro quanto à malandragem, aliás, as duas coisas estão intimamente relacionadas. Afinal, malando que é malandro tem que saber se virar.

 

A expressão “se vira” não tem nada a ver com o sentido ao pé da letra de girar a si mesmo. Na verdade, a dificuldade em explicar o “se vira” de modo semelhante a de se explicar a malandragem, reside no fato de que a expressão pode ser usada em uma gama de conceitos e situações. Pior, em algumas situações seu sentido pode combinar um ou mais desses sentidos em uma só expressão. Bom, agora que esse tema foi escolhido para este post serei obrigado a me virar para tentar explicar o sentido e os usos do “se vira”. Vamos a eles:

 

Esforçar-se: O sentido mais polido e correto de “se vira” é o de esforçar-se para superar uma determinada dificuldade ou obstáculo. Esse talvez seja o sentido principal e mais politicamente correto da expressão. Porém, muitas vezes a expressão é utilizada para indicar que o esforço para superar a dificuldade em questão pode ser muito maior do que a imaginada e, talvez, de que somente o esforço não venha a ser suficiente.

 

Se vira nos 30:

Ou simplesmente “se vira” (não faço a menor ideia da origem da expressão “se vira”, e muito menos, de onde teria vindo esse “nos 30”) costuma a ser utilizado como “encontrar uma forma de fazê-lo”. Nesse sentido, tem como expressões sinônimas “dar seus pulos” ou “dar seu jeito”. Seu uso, neste caso, baseia-se no seguinte: alguém precisa fazer uma determinada coisa e não faz a mínima ideia de como fazê-la. Porém, não importa. A pessoa precisa fazê-la e pronto. Nem que seja preciso descobrir ou inventar um jeito de fazê-la. É justamente esse improvisar, esse inventar um jeito novo de fazer algo, esse criar um jeito novo de resolver o problema que é “se virar”. Logo, quando alguém reclamar de uma determinada coisa (alegando não ter tempo, não saber fazer ou qualquer coisa semelhante) e tal ato for parte das responsabilidades da pessoa (ou pelo menos, você acredita que seja) não pense duas vezes: mande ela se virar (nos 30 ou não, isso fica por sua conta!).

 

Você e Deus: Esse sentido geralmente é usado em conjunto com o sentido apresentado acima e lhe é bem semelhante. Porém, lhe acrescenta um aspecto (ou seria uma complicação?). Significa que além de ter que criar, descobrir ou improvisar um novo modo de realizar a ação que precisa ser concretizada, a pessoa ainda terá que fazer isso sozinha. Total, completa e absolutamente sozinha (como tanto temia Eric Carmen). Sem a ajuda de ninguém (apenas de Deus, isso se a pessoa for religiosa…). Muito usado para ressaltar o fato de que você (ou o falante) não irá ajudar a realizar, ou participar da realização, de determinada atividade. “Me ajuda aqui com isso?”; “Ah se vira!”.

 

Enfim, como muitas expressões “se vira” possui várias variantes e combinações semânticas. E assim como as expressões de todas as línguas, é preciso “se virar” para entendê-las e usá-las corretamente.

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