Pensamentos Sobre Stephen Hawking e a Sua Conexão com o Pink Floyd
Em 1994, o Pink Floyd lança o Álbum “The Division Bell”, um disco conceitual. Isso quer dizer que que todas as músicas tratam do mesmo tema. O tema deste disco: comunicação.
No coração do disco, a música “Keep Talking” trazia uma voz diferente das vozes que normalmente apareciam nos álbuns da banda: a voz de Stephen Hawking. Várias vezes ao longo da canção a voz robótica do famoso físico interpola as que cantam, narrando um histórico de como a habilidade de falar foi fundamental no desabrochar da criatividade humana.
For millions of years, mankind lived just like the animals. Then something happened which unleashed the power of our imagination. We learned to talk and we learned to listen. Speech has allowed the communication of ideas, enabling human beings to work together to build the impossible. Mankind’s greatest achievements have come about by talking, and its greatest failures by not talking. It doesn’t have to be like this. Our greatest hopes could become reality in the future. With the technology at our disposal, the possibilities are unbounded. All we need to do is make sure we keep talking.”
Tradução:
“Por milhões de anos, a humanidade viveu como os animais. Então aconteceu algo que desencadeou o poder de nossa imaginação. Aprendemos a conversar e aprendemos a ouvir. Produzir um discurso permitiu a comunicação de idéias, permitindo que os seres humanos trabalhem juntos para construir o impossível. As maiores realizações da humanidade surgiram falando e as maiores falhas ao não falar. Não precisa ser assim. Nossas maiores esperanças poderiam se tornar realidade no futuro. Com a tecnologia à nossa disposição, as possibilidades são ilimitadas. Tudo o que precisamos fazer é garantir que continuemos conversando.”
Para muita gente, ouvir a voz sintética de Hawking explicando a importância da fala foi uma experiência mais do que informativa: foi uma experiência emocional. Não é à toa que a canção fez muito sucesso de vendas, ficando no topo das paradas de sucesso por seis semanas.
Originalmente, a narração fazia parte de um comercial de televisão para a BT company, uma empresa britânica de comunicação. David Gilmour conta que chorou ao ver o comercial, que descreveu como “a propaganda mais poderosa que eu já vi na televisão”. A voz dessa propaganda acabou sendo incorporada neste disco e no disco seguinte do Pink Floyd, “The Endless River” – que, aliás, também ficou em primeiro lugar das paradas.
Além de estar nessa propaganda e de estar duas vezes no primeiro lugar das paradas, é bom lembrar que Hawking também esteve no topo da lista dos livros mais vendidos com obras que explicam conceitos complexos de física para leigos; colaborou na criação de um filme sobre sua vida que ganhou o Oscar; participou de algumas das séries de TV mais populares; de videogames; de uma esquete do Monty Python – e por aí vai.
Possivelmente seria necessário ser um físico para entender o tamanho da contribuição de Hawking para a ciência; não sou. Por outro lado, um aspecto a respeito da carreira de Hawking não pode ser ignorado: ele se esforçou para fazer com que as ideias que defendia saíssem dos limites da academia e atingissem as pessoas.
O sucesso dos discos, livros, filmes e programas de televisão em que se envolveu é relevante porque o alcance de sua figura também se traduz no crescimento do alcance de suas ideias. Passou a vida buscando formas de levar o conhecimento às pessoas de forma que fosse informativa e também emocional, para que essa informação tocasse a sensibilidade e se tornasse interessante para quem tivesse contato com ela.
Podemos imaginar como seria um mundo em que estudiosos de diversas áreas fizessem um esforço maior para tornar suas ideias acessíveis ao público. Porque por milhões de anos a humanidade viveu exatamente como os outros animais. Então, aconteceu algo que liberou o poder de nossa imaginação: nós aprendemos a falar.
Esse artigo é uma colaboração gentilmente cedida pelo usuário do Reddit Brasil, @jumalinverni