Tradição, família e propriedade
O mais popular representante (ou deveria dizer subcelebridade?) desta corrente política já foi em posts anteriores deste blog. O deputado, pelo Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro é o símbolo da extrema direita brasileira. Isso mesmo, extrema direita nacionalista brasileira! Isolados, evitados e ridicularizados desde o fim da segunda guerra mundial, nos últimos anos os políticos de tal ala ideológica estão cada vez mais fortes. Uma explicação? Não há. Mas, há uma tentativa. Talvez, porque vivamos tempos difíceis e no fundo e na política, somos o contrário do Leão da Montanha. Sempre que encontramos grandes dificuldades achamos que a saída é pela direita.
Reconhecer um alinhado à extrema direita por meio do teste linguístico é mais fácil do que parece, nem se faz necessário cursar um semestre de análise do discurso, basta prestar atenção a constante repetição dos seguintes termos e expressões:
Patriotismo: O integrante da extrema direita transpira patriotismo. Mais do que transpira, vomita patriotismo. Mas, o patriotismo não aparece na forma de uma saudável autoestima nacional (a qual se costuma chamar-se de brasilidade), o patriotismo de extrema direita aparece de uma forma fanática e quase bélica no meio de expressões como “traidor da pátria” ou “servo da nação”. E, é claro, ninguém pode ser tão patriota como os heróis da “Revolução de 31 de março” (vide post anterior). Se perguntado sobre a proibição da comemoração do golpe militar nos quartéis responderá (depois de xingá-lo, obviamente, por ter se referido a revolução como golpe) que isso é um desrespeito a um “período glorioso da história da nação”. Há rumores de que alguns seriam até capazes de citar versos inteiros do Hino à Bandeira
ROTA: Teste válido apenas para habitantes do estado de São Paulo. Sempre que alguém disser, ao comentar sobre a falta de segurança, que nos tempos da “rota na rua” (repare na belíssima sonoridade) isso não acontecia, pode ter certeza: extrema-direita.
Tradição: Em algum momento, de qualquer discussão, sobre qualquer assunto, um alinhado a extrema direita será obrigado a utilizar um argumento da tradição. É assim, sempre foi assim e sempre vai ser assim. Em tempos de união homossexual, liberdade de acesso à informação e proliferação de religiões, nenhum outro argumento e nenhum outro termo parece mais anacrônico.
Vagabundo: Outra palavra que já foi discutida em outro desse posts. Pessoas ideologicamente posicionadas a extrema direita adoram se referir aos outros como vagabundos. Mesmo que esses não sejam tecnicamente vagabundos. Porém, para os alinhados à extrema direita o são. Pois, para eles existem apenas três profissões (além da carreira militar, é claro): médico, engenheiro e advogado. Qualquer outro profissional é vagabundo ou subempregado (porque não se esforça, ou seja, é vagabundo).
Família: A família básica: papai, mamãe, filhinho(a). Não é mais o núcleo da sociedade. É só atentar para o gigantesco número de divórcios. Quem dirá da família estendida com primos, primas e tios. No entanto, eles ainda estão parados no início do século XX e vivem acusando coisas de “ameaçar a família”. Aparentemente desconhecem as leis do divórcio, da união civil estável e o porntube. Além do mais, sempre me pareceu que a maior ameaça a família brasileira eram os próprios membros da família brasileira (afinal, não são eles, ou pelo menos um deles, que escolhem o divórcio?).
Propriedade: Nada é mais importante para a extrema direita. Mais importante que a família e tradição (afinal, onde reunir o primeiro e seguir com o segundo?). A influência disso na vida brasileira? A diferença de severidade da punição dos crimes contra a propriedade privada e aqueles contra a propriedade pública.
Pronto, mais uma fase do teste político-linguistico aplicada. Na próxima, veremos como descobrir pelo vocabulário, se alguém é de extrema esquerda.