Vai no Rio Grande Do Sul? – Descubra o Gauchês

O Brasil é um país de dimensões continentais, formado por um vasto território e com uma rica e diversa cultura fortemente influenciada pelas diferentes ondas migratórias ocorridas ao longo da sua história. Hábitos, gastronomia, religião e festas populares são o resultado dessa inusitada mistura de raças e culturas oriundas de povos vindos de todos os continentes.

O idioma falado no Brasil descende do português, apresentando, entretanto, importantes diferenças daquele falado em Portugal. Como exemplo dessa diferença podemos citar o uso de pronomes: segundo orienta a norma culta, não se inicia frase com pronome oblíquo, porém o português brasileiro se caracteriza por ser eminentemente proclítico. Oswald de Andrade eternizou esse dilema no poema “Pronominais”:

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.

                  Para além da diferença marcante em relação ao português de Portugal, o português brasileiro possui importantes características de variação regional. O léxico e o sotaque dos brasileiros são muito ricos e apresentam muitas diferenças de acordo a região do país na qual se encontre. A mandioca, por exemplo, também pode ser encontrada com os nomes aipim, macaxeira e castelinha, entre outros. Os sotaques, por sua vez, apresentam variações de ritmo, entonação e ênfase, de acordo com a região brasileira.

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                  O sotaque do gaúcho sofre forte influência do espanhol falado pelos vizinhos Platenses e das colonizações alemã e italiana, muito expressivas naquele estado. A principal característica do gauchês, que o distingue do português falado no restante do Brasil, é o uso do tu como pronome, ao invés de você. Note-se, entretanto, que na hora de conjugar verbos, o gaúcho, geralmente, usa o verbo correspondente ao pronome você. Explico: diz-se “tu vai ao banco hoje?” e não “tu vais ao banco hoje?”, o que seria gramaticalmente correto. Isso não é regra, já que em algumas cidades do interior do Rio Grande do Sul pode-se escutar a conjugação do “tu” correta.

                  Outra caraterística marcante é a ausência de vocalização das letras “i” e “u” no final de sílabas: pronuncia-se “cadera” (cadeira) e “dorado” (dourado), provavelmente como influência do castelhano. No interior do estado não se encontra a pronúncia característica brasileira das vogais “e” e “o” no final de palavras: no Brasil, em quase sua integralidade, e em Porto Alegre, capital do RS, se pronuncia “leiti” e “carru”; no interior do RS encontra-se amiúde a pronúncia “leite” e “carro”. Além disso, é comum escutar a pronúncia do dígrafo “rr” igual à do castelhano: forte e com vibração da língua, ao contrário do comumente escutado no português brasileiro geral, que é suave e gutural.

Ainda, destacam-se as influencias alemã e italiana no interior do estado do RS: há cidades nas quais se fala primeiramente a língua estrangeira, e depois o português. Em algumas cidades de colonização italiana, inclusive, predomina o dialeto vêneto, já há muito em desuso na Itália.

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Por fim, cabe destacar o rico e diferenciado léxico utilizado pelos falantes do gauchês, com destaque para algumas expressões muito semelhantes ao espanhol e para o uso das conhecidas expressões “bah” e “tchê”. Listamos abaixo algumas palavras comuns no vocabulário do gaúcho, com seus respectivos significados:

  • aipim = mandioca.
  • atucanado = atrapalhado, com muitos problemas.
  • bah = expressão de vasta utilização em distintos momentos, podendo ser usada para expressar diferentes sentimentos ou impressões, como surpresa, descontentamento, aflição ou mesmo pilhéria.
  • baita = grande.
  • bergamota = tangerina
  • bolicho = boteco.
  • borracho = bêbado.
  • branquinho = beijinho (doce)
  • brigadiano = policial da Brigada (Polícia) Militar
  • cacetinho = pão francês
  • cancheiro = pessoa que tem experiência e/ou habilidade em alguma coisa
  • chapa = radiografia ou dentadura
  • china = originalmente, mulher do gaúcho. Posteriormente, sinónimo de prostituta.
  • chinaredo = bordel.
  • colorado = torcedor do Internacional
  • melena = cabelo
  • negrinho = brigadeiro
  • patente = vaso sanitário (semelhante aos banheiros químicos atuais)
  • pechada = batida, trombada (entre automóveis)
  • peleia = briga
  • piá = guri, menino
  • pila = palavra regional que dá nome a moeda nacional (ex: 10 pila, 25 pila, sempre no singular)
  • prenda = mulher do gaúcho
  • quebra-molas = lombada
  • sestear = dormir depois do almoço
  • sinaleira = semáforo
  • tchê = Saudação gaúcha derivada da palavra “che”, que em tupi-guarani significa “amigo”. Expressão de múltiplo uso, podendo ser empregada antes de frases, apenas para enfatizar, ou para chamar a atenção do interlocutor.
  • tri = prefixo que significa muito (ex: trilegal, tribonita)
  • xis = espécie de hambúrguer consumido no Rio Grande do Sul, que se diferencia do lanche tradicional por apresentar vários ingredientes (além da carne, pode ser feito com frango, coração de frango, calabresa, estrogonofe, entre outros, acompanhado de queijo, presunto, maionese, ovo frito, milho, ervilha, alface, tomate e batata palha), tudo dentro de um pão de maior diâmetro, comparado ao do hambúrguer tradicional, e prensado.

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